quinta-feira, 12 de maio de 2011

Share

Fui em uma outra Open Mic Night, dessa vez pra cantar também, e cheguei mais cedo pra conversar com o Sean. Sean é um senhor de, deixa eu pensar, deve ter uns 50 anos, que organiza o evento, e também toca, canta e compõe muito bem.  Vi que ele e mais umas quatro ou cinco pessoas chegam cedo, arrumam o lugar, fazem o teste de som, de iluminação, organizam as coisas, etc. Toda semana.
Durante o evento, o Sean tira fotos e grava vídeos de todos os participantes e, no máximo, dois dias depois está tudo disponibilizado na página do evento.  As fotos ele coloca na madrugada do mesmo dia. Ele tem o cuidado de pegar os dados de cada um, colocar uma resenha sobre o músico, etc.
E tudo isso pelo que? Pela satisfação, pelo prazer, porque por dinheiro não é. Ninguém ganha nada com isso, pelo contrário, todo mundo que entra ali paga 50 cents que, depois, junto com outras doações, vão para caridade.
Eu tenho aprendido muito com determinadas coisas aqui. Essa é uma delas. Pessoas fazerem por fazer, sem esperar receber, e isso me dá vontade de fazer alguma coisa também.
Um outro exemplo que me tocou recentemente. Sei que ainda não falei disso aqui no blog e estou meio que atropelando as coisas, mas... whatever. Ficamos de couchsurfing numa casa em Roma, e as pessoas foram tão atenciosas com a gte que fiquei até constrangida. Assim que chegamos um deles nos levou pra jantar com os amigos dele num lugar ótimo, depois levou a gte num tour de madrugada, até duas horas da manhã pra visitar as praças e fontes iluminadas... no dia seguinte a tarde de novo, ficou quase 3h caminhando com a gente e nos levando nos lugares que ele com certeza já enjoou de ver, dando explicações, procurando dados no Google pra nos dizer, tirando fotos nossas, etc.
Nos levou nos melhores lugares pra comer, pra tomar sorvete, a noite e no dia seguinte o flatmate dele cozinhou pra gente, ainda perguntou o que queríamos comer, saiu pra comprar, uma coisa assim tão gentil! Ainda nos levaram numa festa a noite, enfim, uma coisa que eu fiquei impressionada. E eu pensei como que eu ia poder agradecer, e percebi que não havia como eu retribuir o que eles fizeram por mim, porque eu muito prrvavelmente não vou recebê-los no Brasil. Eles fizeram sem esperar nada em troca mesmo, e o que eu posso fazer é fazer o mesmo por outras pessoas, e se essas pessoas pensarem o mesmo, podem fazer isso com outros e assim cria-se uma rede de colaboração, de troca, de experiências. E eu finalmente entendi o espírito do couchsurfing que eu via tantas pessoas falando, que não é só acomodação grátis, é uma questão de “share”, de compartilhar, de contribuir.
É o mesmo que eu vi nas pessoas que organizam os eventos de música, eles sabem que muitas pessoas vão lá pra divulgar um show, um site, e acabou, que muitos não valorizam, assim como no couchsurfing, muitos querem apenas dormir de graça e acabou, e mesmo assim eles continuam fazendo, porque um dia provavelmente essas pessoas vão entender. E vão começar a fazer o mesmo, e assim a rede vai crescendo.
Não sei se consegui ser clara o suficiente, provavelmente não porque é sempre muito difícil explicar e colocar em palavras algo que se está sentindo. Mas o que estou vendo é que esse intercâmbio vale muito a pena. Por várias razões. E essa com certeza é uma delas.

The 50cent Session - Cafe des Irlandais

Nenhum comentário:

Postar um comentário